Monday, January 29, 2007

Parabéns

A BOLA hoje faz 62 anos. Antes do meu comentário, vou transcrever, na íntegra, o Editorial que hoje faz capa no referido jornal, escrito pelo seu director, Vítor Serpa:
"ABOLA cumpre, hoje, 62 anos. Não dizemos de idade, porque os jornais não têm idade. Podem ser velhos, sendo novos; podem ser novos, sendo velhos. Melhor seria que tivessem a idade de todos e de cada um dos seus leitores. Coisa impóssível, como se sabe, e, por isso, ABOLA tem procurado, mais do que ter, sempre, a idade do seu tempo, ir um pouco à frente desse tempo. Em cada tempo.
Tratamos de desporto, mas não só. A bissa visão do assunto desportivo sempre foi, é e será uma visão mais ampla, mais abrangente e mais inclusiva do desporto na sua vasta natureza política, social e económica. E tanto recusamos o desporto numa perspectiva suprema de onsessão de vida, como afrontamos essa moda ridícula e perversa de um preconceito intelectual que injustamente o subestima e lhe atribui uma desajustada menoridade cívica e moral.
Continuamos, pois, a ter a coragem de sermos nós a traçar o nosso próprio rumo, num tempo em que demasiados jornais defrontam a crise global da imprensa com a lastimosa oferta do sacríficio da sua dignidade e da sua liberdade.
Nós bem o sabemos. Impor um jornal livre, como A BOLA, tem custos. Provoca animosidades, incompreensões, insatisfações. Gera afrontas. Desperta invejas.
Permanece, porém, o respeito à solidez de carácter que um jornal sempre precisará de ter, sobretudo, quando a moda é dobrar a espinha e a alma. Não nos compremetemos, pois, com esse tempo. Preferimos seguir um pouco à frente, mais perto do futuro e, por isso, também temos crescido para além de Portugal, por essas terras que, no Mundo, falam a língua portuguesa, como bem dizia Pessoa, nossa verdadeira Pátria.
A BOLA tem, reconhecidamente, uma história, mais do que invulgar, única. A grandeza deste percurso de 62 anos é incomparável. É uma riqueza que todos nós, nesta casa, sabemos que não podemos esbanjar. É uma herança que não podemos trair.
A nossa noção de futuro é, afinal, essa certeza imensa que nunca haveremos, um dia, de chegar. O nosso destino é não ter destino algum. É, antes, esta viagem permanente. Esta viagem incessante. No tempo. Com os leitores deste tempo. Com os leitores de todos os tempos".
Não podia deixar passar esta data em claro, como outro dia qualquer. Simplesmente porque não é um dia qualquer. 62 anos é uma vida. Mas o tempo tem esta coisa estranha de não poder ser quantificado: não existe nem muito nem pouco tempo. Porque um instante é um intervalo de tempo infinitamente pequeno e o tempo é infinito. 62 anos podia não ser nada, sendo tudo. Podia ser tudo, não sendo nada.
Nos meus 17 anos de idade, pelo menos os últimos 9 passei a ler A BOLA. Um companheiro de todos os dias. Não se contam pelos dedos das mãos, o número de pessoas que me via com A BOLA debaixo do braço, ou no fundo da mochila depois de mais um intenso dia de aulas. Não se contam pelo número das mãos, as pessoas que faziam na sua cabeça, essa a minha imagem de marca.
Foi com o jornal A BOLA que ganhei um dos meus brinquedos mais maravilhosos de sempre. Um daqueles que marcam uma infância. Em 96 ofereceram miniaturas dos jogadores portugueses que iam a Inglaterra defender as nossas cores. Uns bonecos pequenos. Lembro-me de todos: do cabelo louríssimo do João Pinto, a passar pela cabeça em bico do Vítor Baía, sem esquecer o material maleável com que tinham feito o boneco do Oceano, o que dificultava metê-lo em pé. Contruiram-me umas balizas pequenas em ferro e eu brincava com os bonecos e uma pequena bola que inventei, em cima do tapete da sala, com umas linhas imaginárias. Inventava transferências com as notas que entretanto tirei do Monopoly. Ainda tenho este brinquedo. Acreditem que se pudesse, ainda hoje brincava com ele.
Ainda guardo as primeiras páginas de quando a morte levou Fehér. Preta, preta, preta, como aquela manha de 25 de Janeiro. Juntamente com esta, também guardo a primeira página de A BOLA de quando o meu Benfica foi novamente campeão. Mais do que papel, mais do que simples imagens ou simples folhas, são memórias. Memórias de uma vida, memórias de 62 anos.
Resta-me agradecer. Por tudo, e talvez por alguma ainda por alguma coisa mais.
Obrigado.

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