Thursday, March 22, 2007

Um pouco de céu

Só hoje senti
Que o rumo a seguir
Levava pra longe
Senti que este chão
Já não tinha espaço
Pra tudo o que foge
Não sei o motivo pra ir
Só sei que não posso ficar
Não sei o que vem a seguir
Mas quero procurar
E hoje deixei
De tentar erguer
Os planos de sempre
Aqueles que são
Pra outro amanhã
Que há-de ser diferente
Não quero levar o que dei
Talvez nem sequer o que é meu
É que hoje parece bastar
Um pouco de céu
Um pouco de céu
Só hoje esperei
Já sem desespero
Que a noite caísse
Nenhuma palavra
Foi hoje diferente
Do que já se disse
E há qualquer coisa a nascer
Bem dentro no fundo de mim
E há uma força a vencer
Qualquer outro fim
Não quero levar o que dei
Talvez nem sequer o que é meu
É que hoje parece bastar
Um pouco de céu
Um pouco de céu

Wednesday, March 21, 2007

P'ra longe...

Ser jovem é mesmo assim. Os nossos sonhos guiam-nos todos os dias para um caminho que não sabemos muito bem qual é, nem sequer onde nos leva. Quantas vezes já não dei voltas ao mundo sentado na minha cadeira? Quantas vezes já não fiz desta cadeira um trono na qual eu seria rei e senhor? Não levo a mal a minha própria imaginação. Para ser sincero, gosto que ela não tenha nenhum sinto de segurança, porque viver é mesmo assim. Enquanto eu dominar o mundo aqui do meu quarto, enquanto eu for capaz de viajar na minha imaginação voltas e voltas e voltas, conseguirei dizer que sou um jovem.´Nós temos a fé, a vida, a esperança do nosso lado. Nem que seja só dentro da nossa cabeça. Mas que mal tem?
Hoje apetece-me viajar. Se me deixar levar, secalhar vai ser mais dificil parar. Mas isso também não me importa muito, porque quando regressar o meu corpo continuará sentado nesta longa cadeira preta, imóvel. O mundo, esse, continuará o mesmo. Mas é bom acreditarmos que podemos mudar o mundo. Eu acredito. Pelo menos, o nosso mundo.

Friday, March 16, 2007

Preto e Branco


Tatuagens

Em cada gesto perdido
Tu és igual a mim
Em cada ferida que sara
Escondida do mundo
Eu sou igual a ti
Fazes pintura de guerra
Que eu não sei apagar
Pintas o sol da cor da terra
E a lua da cor do mar
Em cada grito da alma
Eu sou igual a ti
De cada vez que um olhar
Te alucina e te prende
Tu és igual a mim
Fazes pinturas de sonhos
Pintas o sol na minha mão
E és mistura de vento e lama
Entre os luares perdidos no chão
Em cada noite sem rumo
Tu és igual a mim
De cada vez que procuro
Preciso um abrigo
Eu sou igual a ti
Faço pinturas de guerra
Que eu não sei apagar
E pinto a lua da cor da terra
E o sol da cor do mar
Em cada grito afundado
Eu sou igual a ti
De cada vez que a tremura
Desata o desejo
Tu és igual a mim
Faço pinturas de sonhos
E pinto a lua na tua mão
Misturo o vento e a lama
Piso os luares perdidos no chão


Uma outra, outra e ainda outra vez. Em cada olhar, em cada suspiro meu está um verso desta letra, desta canção. Posso ouvi-la horas que a ouvirei como se fosse sempre a primeira vez. Uma outra, outra e ainda outra vez!

Thursday, March 15, 2007

Cada lugar teu...

Sei de cor cada lugar teu
atado em mim, a cada lugar meu
tento entender o rumo que a vida nos faz tomar
tento esquecer a mágoa
guardar só o que é bom de guardar

Pensa em mim protege o que eu te dou
Eu penso em ti e dou-te o que de melhor eu sou
sem ter defesas que me façam falhar
nesse lugar mais dentro
onde só chega quem não tem medo de naufragar

Fica em mim que hoje o tempo dói
como se arrancassem tudo o que já foi
e até o que virá e até o que eu sonhei
diz-me que vais guardar e abraçar
tudo o que eu te dei

Mesmo que a vida mude os nossos sentidos
e o mundo nos leve pra longe de nós
e que um dia o tempo pareça perdido
e tudo se desfaça num gesto só

Eu Vou guardar cada lugar teu
ancorado em cada lugar meu
e hoje apenas isso me faz acreditar
que eu vou chegar contigo
onde só chega quem não tem medo de naufragar

Tuesday, March 13, 2007

Conversa entre três "eu's"

Para que terras vai e donde vem?
Venho dos lados de Beja
A que distância!...
Tristeza ou alegria o traz?
Cansaço
Há doenças piores que as doenças
Mas que são dolorosas mais que as outras
Tenho uma grande constipação
E toda a gente sabe como a grandes constipações
Alteram todo o sistema do Universo
Ah nessa terra também, também
O mal não cessa, não dura o bem
Devo tomar qualquer coisa ou suicidar-me?
Nunca o saberei
Tem de pensar além da dor
Que é que me revela?
Mas – esta é boa! – era do coração
Quem to disse tão cedo?
A vida…
És melhor do que tu
Não digas nada: sê!
Estou lúcido e louco
Se ao menos endoidecesse deveras!
Estala, coração de vido pintado!
Que amor não se explica?
Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz
E te disse ao ouvido o que sentia?
Um momento… Dá-me ali um cigarro,
Do maço em cima da mesa de cabeceira
Continua… Dizias
Deus quis que a Terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Como a vida
(Neste momento entra em cena Alberto Caeiro)
Mestre, meu mestre querido!
Vida da origem da minha inspiração!
Que é feito de ti nesta forma de vida?
Tinha fugido do céu.
No céu tudo era falso
No céu tinha de ser sempre sério
E até com um trapo à roda da cintura.
O mistério das coisas, onde está ele?
Tens, como Hamlet, o pavor do desconhecido?
O mistério das coisas? Sei lá o que é Mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Que sabe o rio disso e que sabe a árvore?
E eu, que não sou mais do que eles, que sei disso?
Mas o que é conhecido? O que é que tu conheces,
Para que chames desconhecido a qualquer coisa em especial?
Não sei… Eu sou um doido que estranha a sua própria alma
Ali o azul do céu
E, se bem que seja obscuro
Sem o saber
Atrai e dói
Que te diz o vento que passa?
Não sei… eu perco-o… E outra vez regressa
Escuto-o… Ao longe, no meu vago tacto
Como uma onda de encontra à minha dor
E sorriste porque tudo te é fácil e inútil.
Se têm a verdade, guardem-na!
E a ti o que te diz?
Chama por mim, chama por mim, chama por mim…
O meu passado ressurge, como se esse grito marítimo
Fosse um aroma, uma vez, o eco duma canção
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira
Nunca ouviste passar o vento.
O vento só fala de vento
O que lhe ouviste foi mentira
E a mentira está em ti
Quem sabe o que isto quer dizer?
Eu não sei e foi comigo
Há muita coisa
Incompreendida…
Sim, eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos: -
As coisas não têm significado: têm existência
As coisas são o único sentido oculto das coisas
O que é o presente?
A criação do futuro…
Concordo em absoluto
Mas a minha imaginação recusa acompanhar-me
E de repente, mais de repente do que da outra vez, de mais longe, de mais fundo,
Ergo as mãos para ti, que estás longe, tão longe de mim
Ah, como eu pude pensar, sonhar aquelas coisas?
Não significam nada.
Tudo o que sonho ou passo
Não tem lugar, não tem verdade,
Atrai e dói
É uma coisa relativa ao passado e ao futuro
É uma coisa que existe em virtude de outras coisas existirem
Eu quero só a realidade, as coisas sem presente
Quem te disse ao ouvido esse segredo
Quem to disse tão cedo?
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu
Não acredito em Deus porque nunca o vi.
(Neste momento entra em cena Ricardo Reis)
A resposta está para além dos Deuses.
Homem, é igual aos deuses.
Só nós somos sempre iguais a nós próprios.
Sei a verdade e sou feliz.
Felizes, nós? Ah, talvez, talvez.
Triste de quem é feliz!
Penso com os olhos e com os ouvidos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Além disso, fui o único poeta da Natureza.
Tentemos pois como abandono assíduo
Entregar nosso esforço à Natureza.
Não: não quero nada.
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões.
A única conclusão é morrer.
Morre! Tudo é tão pouco.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Não me macem, por amor de Deus!
E assim a hora passa
Metafisicamente.
Tirem-me daqui a metafísica
Vão para o diabo sem mim.
Calma, também
Não vale a pena.
Não me peguem no braço!
E basta.
Faço-os calar: eu falo.
Estás só. Ninguém o sabe cala e finge
Mas finge sem fingimento.
Porque tão longe ir pôr o que está perto –
A segurança nossa? Este é o dia
Esta é a hora, este o momento, isto
É quem somos, e é tudo.

Sunday, March 04, 2007

Obrigado

Todos os dias ao longo da nossa vida são importantes., só assim faz sentido viver. A diferença entre aqueles que ficam na nossa memória por muitos e muitos anos, pelos melhores ou piores motivos, são a maneira como nos marcam. E isso, penso que nem todos nos marcam da mesma maneira.
Hoje faço 18 anos. E por isso, quis reunir-me com todas as pessoas que ao longo destes 18 anos foram importantes para mim. A melhor prenda que me podiam dar era estarem ali, comigo. E foi isso que vos tentei dizer. Era isso que queria que soubessem. Do fundo do meu coração. Infelizmente nem todas as pessoas que me marcaram ao longo destes anos poderam estar presentes, uns porque não poderam, outros porque a vida levou a que perdessemos contactos e escolhessemos caminhos diferentes e outros que infelizmente já não estão entre nós.
E porque a vida é feita destas pequenas coisas, e porque só assim merece a pena,
obrigado pessoal.