Língua Portuguesa
O tema proposto era já de sí complicado, abstracto. Tão abstracto que quase lhe conseguia tocar, quase o conseguia sentir. Mas mesmo assim não sei se o vi, não sei se era mesmo ele, ou se o deixei escapar por entre os dedos das minhas mãos. Talvez nunca o tenha tido, talvez nunca o tenha encontrado. Talvez nunca ninguém o tenha encontrado. Não sei, talvez. Mas, como um dia Alguém (atenção "Alguém") disse, vou eternamente buscar e conseguir a prefeição das coisas.
E no meio deste pensamento, foi assim que surgiu este texto que fiz na aula de Português de sexta feira, subordinado ao tema, sonhos/realidade.
Ora cá vai:
Uma viagem da alma, vai daqui ao coração e não nos leva a lado nenhum. O problema, pode ser, fazer juntar essa mesma alma ao nosso corpo, tão cheia de ilusões e sonhos que ganhou noutras longínquas palavras.
Quando sonhamos, entenda-se, quando a nossa alma se enche de utopias, de sonhos irrealizáveis ou de ideias perdidas, somos felizes. Porque a alma, não faz distinções, não faz escolhas, não tem limites. Podía-mos quase dizer que quando somos crianças somos todo alma, pois, como diz António Lobo Antunes, nessa altura era feliz pois não conhecia a realidade.
À medida que o sonho se desvirtua, que nos cansamos de pensar, é sinal que a nossa alma está a entrar no nosso corpo. No mesmo corpo que permanece imóvel e impotente perante o conhecimento e a realidade. Durante o processo, tudo o que a alma carrega que não cabe na realidade, fica de fora. Apercebemos-nos, por "magia", que a felicidade foi umas das partes que da alma que não coube no nosso corpo. Começa a anoitecer, o Sol já não brilha tão alto.
Quando o corpo "acorda", findo mais um sonho, tem de se virar para a pouca alma que tem dentro de sí. Da felicidade, nada mais resta que uma lembrança, talvez.
Diogo Jesus
Porquê escrever?
Tinha oito anos. Naquela altura, não havia nada mais importante para mim do que o baseball. A minha equipa era os New York Giants e seguia os feitos daqueles homens de bonés preto e laranja com a devoção de um autêntico fiel. Ainda hoje, recordando aquela equipa que já não existe, que jogava num estádio que já não existe, recupero os nomes de quase todo o alinhamento. Alin Dark, Whitey Lockman, Don Mueller, Johnny Antonelli, Monte Irvin, Hoyt Wilhem. Mas não havia maior, não havia mais perfeito, nem mais merecedor de adoração do que o Willie Mays, o incandescente Say-Hey Kid.
Levaram-me, naquela Primavera, ao meu primeiro jogo da primeira divisão. Uns amigos dos meus pais tinham bilhetes de camarote nos Polo Grounds e, numa noite de Abril, fomos em grupo ver jogar os Giants contra os Milwaukee Braves.
Não sei quem é que ganhou, não me lembro absolutamente nada do jogo, mas lembro-me que, depois de o jogo acabar, os meus pais ficaram a conversar com os amigos deles, até todos os espectadores se terem ido embora. Ficámos até tão tarde que tivemos de atravessar o campo e sair pela porta do meio, que era a única que ainda estava aberta. Essa saída ficava mesmo por baixo dos balneários dos jogadores.
Ao aproximar-me da parede, avistei o Willie Mays. Não havia dúvida que era ele. Era mesmo o Willie Mays, já sem o equipamento, vestido roupa normal, ali nem a três metros de mim. Consegui manter as pernas a andar na sua direcção e depois, reunindo toda a minha coragem, obriguei as palavras a sair: "Senhor Mays, - disse eu - podia dar-me um autografo, por favor?".
Ele devia ter vinte e quatro anos feitos, mas não consegui tratá-lo pelo primeiro nome.
A reacção dele à minha pergunta foi brusca, mas cordial. "Claro miúdo" disse ele. "Tens um lápis?". Ele tinha tanta vida, lembro-me, estava tão cheio de energia da juventude, que não parava quieto e continuava aos saltinhos enquanto falava.
Eu não trazia um lápis, e pedi ao meu pai que me emprestasse um. Mas ele também não tinha. Nem a minha mãe. Nem, como depois se viu, nenhum dos adultos.
O grande Willie Mays ficou ali a olhar-nos em silêncio. Quando se tornou claro que nehum do gro tinha com que escrever, virou-se para mim e encolheu os ombros. "É pena, miúdo" disse ele, "não tens lápis, não posso dar autógrafo." E saiu do estádio, para a noite.
Não queria chorar, mas as lágrimas começaram a correr-me pela cara abaixo e não conseguia pará-las. Pior ainda, no carro chorei no caminho todo até casa. Sim, estava esmagado pela decepção, mas também me revoltava contra mim próprio por não conseguir conter as lágrimas. Já não era um bebé. Tinha oito anos e os miúdos crescidos não deviam de chorar por coisas destas. Não só não tinha um autógrafo do Willie Mays, como não tinha mais nada. A vida pusera-me à prova e eu não estivera à altura.
Depois dessa noite, comecei a levar sempre um lápis, para onde quer que fosse. Tornou-se um hábito nunca sair de casa sem ter um lápis no bolso. Não é que eu tivesse quaisquer planos especiais para aquele lápis, mas não queria ser apanhado desprevenido. Tinham-me apanhado um vez de mãos vazias, e eu não queria deixar isso voltar a acontecer.
Se não aprendi mais nada, os anos ensinaram-me ao menos isto: se há um lápis no bolso, há boas hipóteses de que um dia nos venha a tentação de o usarmos.
Como gosto de dizer aos meus filhos, foi assim que me tornei escritor.
Paul Auster, escritor norte-americano.
Dedicado à minha amiga Bia.
Estou a dizer a verdade se disser que este foi, sem dúvida, um dos textos que li que mais me impressionou. Está escrito de uma forma muito simples, e eu senti o sofrimento de impotência daquele rapaz. É engraçado ver-mos, que afinal, para tudo há sempre uma boa explicação...
Para ser grande, sê inteiro: nada
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago da lua toda
Brilha, porque alta vive.
14/2/1933, Fernando Pessoa
Paulo Coelho
Numa das primeiras páginas do livro que ontem comprei, 11 minutos de Paulo Coelho, está uma dedicatória. Mais para a frente farei alguma considerações sobre o livro, que ainda me encontro a ler. Mas concentromos-nos na dedicatória: não é para a família, não são para os amigos, mas é para uma pessoa que representa muita gente. Vou transcrever um excerto dessa dedicatória, para que percebam melhor:
No dia 29 de Maio de 2002, horas antes de eu colocar um ponto
final neste livro, fui à Gruta de Lourdes, em França, encher alguns garrafões de
água milagrosa na fonte que ali se encontra. Já dentro dos terrenos da catedral,
um homem de aproximadamente 70 anos disse-me: "Sabe que se parece com o Paulo
Coelho?" Eu respondi que era o próprio. O homem abraçou-me e apresentou-me a
mulher e a neta. falou-me da importância dos meus livros na sua vida,
concluindo: "Eles fazem-me sonhar."
(...) Este livro é dedicado a si, Maurice Gravelines (nota:
suponho que o tal homem de 70 anos). Tenho uma obrigação para consigo, para com
a sua mulher, para com a sua neta, e para comigo; para falar daquilo que me
preocupa, e não do que todos gostariam de ouvir. Alguns livros fazem-nos sonhar,
outros trazem-nos à realidade, mas nenhum pode fugir daquilo que é mais
importante fugir daquilo que é mais importante para um autor: a honestidade para
com o que escreve.
Como está bom de ver, o livro é dedicado a um desconhecido. E isto é um pontapé de saída para um livro que estou a considerar fantástico, porque as personagens não são mágicas, não são sobredotadas e não lhes acontece nenhum milagre durante o livro. são pessoas, erram e pagam esses erros. Podias ser tu, podia ser eu, podia ser qualquer um de nós. Até porque a dedicatória, parece-me, também podia ser para mim, também podia ser para ti, também podia ser para nós...
Bocage
Em 1790, estava de regresso a Lisboa, que era onde se sentia bem. Ao aproximar-se a hora da morte, escreveu: (...)
"Rasga meus versos. Crê na eternidade.".
Interrupção voluntária da Gravidez

Quando o assunto é polémico, corre-se o risco de no fim de um debate de ideias, não se chegar a nenhuma conclusão. Nestes assuntos, há um misto entre a razão e a paixão (entendam-se sentimentos) que não permite que a conclusão a que chegamos seja universal.
O aborto é sem dúvida, um destes assuntos. E, como referi no parágrafo anterior, isto é, somente, a minha prespectiva desta questão: sou a favor por dois grande motivos. Primeiro, porque penso que quando a mulher pensa em abortar, mesmo que os motivos a ultrapassem (incapacidade financeira, por exemplo), essa criança não é desejada. E quando assim é, não está garantido o afecto, que é fundamental e cuja sua falta se vai reflectir ao longo de toda a sua vida. O inexitente acompanhamento necessário e estabilidade podem gerar situações muito complicadas. Pode acontecer que não hajam grandes condições (mais uma vez a parte financeira à cabeça), mas a mulher não pense sequer em abortar, e nesse caso é um mal menor, no sentido que o fundamental, o afecto, lhe está garantido.
O segundo motivo, prende-se com a minha opinião de que todas as pessoas são livres de decidirem o que fazer da sua vida, até ao ponto que isso intreferir com a liberdade/vida das outras pessoas. Se todos respeitarem o limite da liberdade dos outros, a vivência em sociedade sairá muito facilitada. Ou seja, isto remete-nos para o seguinte: a mulher deve de poder decidir se quer ou não abortar, sem que daí advenham problemas com a justiça.
Tentando perceber os outros pontos de vista, um dos pontos sobre o qual recaiem as opiniões das pessoas que são contra o aborto é para "salvar" os baixos indíces de natalidade dos países desenvolvidos. Compreendo isso, mas isso não deve nunca ser feito a todo custo, ainda para mais crianças que na maior parte dos casos são entregues a orfanatos, instituições da segurança social e dados para adopção. E, secalhar, se fossem perguntar a essas crianças, elas tambem preferiam não ter nascido.
11H45 de uma manhã
Aproveito para recomendar a todos que leiam o último post do Bruno Nogueira no seu fantástico Blog "Corpo Dormente". O link podem encontrar na barra direita do "Educação Visual".